GPS

  • by

Gosto tanto de você, meu bem.
Reforma o meu coração
A vida é um poema que vou escrever
Esquecer a solidão
Tô contigo e sei pra onde ir
No seu GPS eu posso confiar

Trecho da música GPS 2.0 de DJ Matheus Lazarett

 

“Amiga, preciso conversar com você”

Com essas palavras a Melissa, Melí, marcou um encontro com sua melhor amiga e confidente, a Luana, Lú, na cafeteria do shopping center perto do prédio onde a Lú trabalhava.

Antes de pedirem o café acompanhados de pastel de nata, que elas adoravam, afoita a Melí, olhando nos olhos da Jú, entrou logo no assunto.

“Não sei o que está acontecendo com o Romão” Romão, namorado da Melí.

“Porque?”

“Ele está agindo de maneira estranha”

“Como assim?”

“Não sei explicar direito, ele mudou”

“Mudou?”

“É, chega atrasado aos nossos encontros as vezes não aparece”

“Você desconfia de alguma coisa?”

“Sim”

“Do que?”

“Do carro”

“Do carro, como?”

Neste momento elas foram interrompidas pela garçonete.

“Bom dia.” E sem esperar resposta continuou “O que desejam?”

A Melí e a Lú entretidas na conversa, deram um salto, e desejosas de continuar o assunto, pediram o de sempre e despacharem a garçonete.

“Continua.” Pediu a Lú e acrescentou “Você desconfia do carro?”

“Desde que o Romão comprou o carro novo ele é outra pessoa, parece não ligar mais para mim.”

“Você acha que o carro é que mudou o comportamento dele?”

“Sim, estou achando. Ele vive dirigindo aquele carro.” E com uma cara de choro continuou “Quem sabe por causa do carro ele arrumou outra.”

“Deixa de bobagem, Melí, o Romão é vidrado em você. Isso é coisa de homem.”

“Coisa de homem?”

“É, nós mulheres queremos carro para transporte, um veículo que nos leve de um ponto A para um ponto B, que não dê problema e que tenha sempre gasolina no tanque, nada mais. Para o homem, o carro é muito mais que isso, é símbolo de potência, status, machismo, sei lá.”

“Tudo bem, mais o que isso ter a ver com o Romão”

“Ele deve estar contente, usufruindo do carro novo.” E perguntou “Que tipo de carro ele comprou?”

“Não sei bem só sei que é um carro esporte, último modelo.” Informou a Melí.

“Homem é assim mesmo, não pode ver carro. Logo a novidade passa.” Antecipou a Lú.

Essas palavras deixaram a Melí mais calma. Ainda bem que a Lú era sua amiga.

Mas a situação piorou!

O Romão praticamente deixou de visitar a Meli. Fazia viagens longas com o carro. As vezes demorava dias para aparecer.

A Meli mandou um whatsapp para a amiga.

“Lú, piorou.”

“Como piorou?” Foi o texto que a Lú imediatamente mandou para a Melí como resposta.

“Melhor conversarmos pessoalmente. Dá para você passar em casa no sábado?”

“Mas você não vai sair com o Romão?”

“Não, este é exatamente o problema.”

A Lú apareceu na casa da Melí para um lanche que a mãe da Meli preparou. As três conversaram. O pai da Melí não estava, tinha ido assistir o jogo de futebol com amigos.

“O que está acontecendo?” Indagou a Lú enquanto se servia de uma salada.

“O Romão agora passa dias fora.” Respondeu a Meli. A mãe da Meli balançou a cabeça concordando.

“Mas porquê?” indagou a Lú.

“Não sei. Antes quando havia um feriado prolongado ele sempre arrumava uma viajem para irmos juntos, uma vez fomos até a foz do Iguaçu ver as cataratas.” E ante ao olhar inquisidor da Lú, continuou.

“Mas agora, quando há um feriado, ele nem vem visitar.” Afirmou a Meli, quase chorando e continuou.

“Sempre com aquele maldito carro.” Concluiu.

“Tenho vontade de pegar o taco de beisebol do meu irmão, passar na casa do Romão e arrentar com aquele carro.” Desabafou a Meli ante o olhar atônito da Lú e da mãe da Meli que tentaram acalma-la.

“Não fique assim, minha filha, vamos pensar.” Disse a mãe da Meli.

“Sim, mas o que devo fazer?” Perguntou a Meli algo desconsolada.

“Acho você devia seguir o Romão para ver onde ele vai com o carro.” Sugeriu a Lú.

“É uma ideia.” Disse a Meli em tom de dúvida.

“Assim você pode saber se ele está se encontrando com outra.” Observou a mãe da Meli, apoiando a ideia da Lú

“Mas eu não posso fazer isto sozinha, depois não é fácil seguir alguém de carro neste trafego louco. É fácil perder a pista.” Disse a Meli.

“Eu posso ajudar.” Ofereceu a Lú.

“Obrigado.” Agradeceu a Melí, mas sem estar muito convencida e observou.

“O Romão conhece bem meu carro e o seu, ele vai logo perceber que está sendo seguido.”

“Se ele ver vocês, parem de segui-lo e depois digam que foi uma coincidência estarem na mesma rua no mesmo lugar.” Disse a mãe da Melí, agora totalmente entrosada no plano.

“Também podemos conseguir um destes chips que permitem saber a localização do carro e rastreá-lo usando o telefone celular.” Propôs a Lú.

A Melí não sabia bem que chip era este e perguntou.

“Chip, que chip?”

“Meu irmão que sabe, ele adora tecnologia e uma vez me falou deste chip. Queria saber os movimentos da namorada. Parece que usa GPS, sei lá.” Esclareceu a Lú.

A Melí e a mãe dela olharam para a Lú com cara de dúvida. Esta coisa de tecnologia era um mistério para elas.

A Lú percebendo a dúvida, adiantou.

“Vamos fazer o seguinte, ligar para o meu irmão no whatsapp, ele pode explicar tudo direitinho.” E sem esperar anuência das duas, ligou para o irmão.

O Pedro, irmão da Lú trabalhava de programador, fazia programas para computadores, celulares. Um experto em tecnologia. Havia saído da casa dos pais não fazia muito tempo. Por causa da pandemia, ele trabalhava remotamente. Ganhava bem, comprou um apartamento no litoral e por causa do seu horário flexível, aproveitava o tempo para fazer surf, ir à praia, um vidão!

“Oi Pedro.” Disse a Lú assim que o irmão atendeu e apareceu na tela do telefone. Foi uma ligação de vídeo.

“Lú que surpresa!” Exclamou o Pedro assim que atendeu a ligação da irmã. Desde que o Pedro saiu da casa dos pais eles conversavam pouco.

“Como está a vida na praia?” Quis saber a Lú, demonstrando uma ponta de inveja.

“Maravilha. Acabei de pegar umas ondas. Nem banho tomei ainda.” Informou o Pedro com um sorriso.

“Não quero tomar muito seu tempo, tenho uma pergunta.” Disse a Lú, percebendo que o irmão não queria conversar muito.

“Que pergunta?”

“Como está você com a namorada?”

“Que namorada?”

“Aquela que você andou seguindo para ver se ela estava te traindo.”

“Ah! Sim, descobri que estava traindo mesmo. Ela achava que eu era um nerd e por isso me traia. Terminamos.” Confidenciou o Pedro sem parecer se importar.

Neste momento o Pedro percebeu que haviam outras pessoas com a Lú e parou, hesitando. A Lú percebendo a situação se adiantou.

“Estou aqui com a Melí, se lembra dela?”

“Sim, claro. Oi Meli, tudo bem?”

“Oi Pedro quanto tempo. Estou vendo que você está disfrutando a vida no litoral.” Afirmou a Meli, enquanto a Lú movia o telefone para mostrar o rosto da Meli ao Pedro, e continuou “Também está conosco minha mãe.”

O Pedro fez um aceno com a mão para a mãe da Meli, que agora também aparecia na tela.

“Então estamos em uma reunião?” Disse o Pedro fazendo uma cara séria. Ele estava acostumado com reuniões de vídeo por causa do trabalho remoto.

“Mais ou menos.” Disse a Lú e continuou “A Meli está em uma situação similar à sua e queria saber como você fez para seguir sua namorada.”

“Usei um rastreador GPS.” Informou o Pedro.

“O que é isto? É como o GPS que há no telefone e nos carros?” Perguntou a Lú.

“Não é bem assim.” Disse o Pedro e assumindo um ar professoral continuou “Primeiro é necessário entender o que é GPS. Este termo é usado erroneamente na maioria das situações.”

“Como assim.” Perguntou a Meli interessada.

“GPS é uma sigla que vem do Inglês que quer dizer Global Positioning System.  Sistema Global de Posicionamento. É um sofisticado sistema de 24 satélites, distribuídos em seis órbitas ao redor da terra que transmitem sinais de rádio que podem ser captados por telefones celulares e computadores, e estes usando a posição dos satélites calculam onde exatamente estão na terra com uma precisão de alguns metros.”

“Então o GPS só serve para saber onde um celular ou computador se encontra?”

“Sim exatamente.” Concordou o Pedro e demonstrando que sabia tudo sobre GPS continuou “O sistema é tão sofisticado que usa relógios de máxima precisão que compensam a dilatação do tempo, como provado na teoria geral da relatividade do Einstein.”

Vendo a expressão das três mulheres, o Pedro percebeu que sua explicação não havia sido totalmente compreendida e bem acima do que elas queriam saber. Então retomou a aula.

“Sabendo o local exato em que se encontra, o aparelho, telefone, computador, quando em movimento, pode calcular para onde está indo e a velocidade correspondente. Basta calcular a distância e direção entre dois pontos. Onde se encontra no momento e onde se encontrava segundos atrás.”

“E é assim que funciona o rastreador?” Quis saber a Lú dirigindo a conversa para o interesse do grupo de mulheres.

“Sim e um pouco mais. Além de calcular onde está e para onde está se dirigindo, transmite estas informações usando a internet que então pode ser captada por uma app de um celular.”

“Deixa ver se entendo.” A Meli se intrometeu “Se eu colocar um rastreador em um carro, posso usar uma app no meu celular para saber onde o carro se encontra e para onde está indo?”

“Quase. Acho que me expressei mal anteriormente. Sim você pode saber onde o carro se encontra e de onde veio. Para onde está indo, depende do motorista.” Corrigiu o Pedro.

“Bem, mas acho que isto é suficiente para seguir o carro a uma certa distância.” Afirmou a Melí.

“Claramente.” Concordou o Pedro.

“Mas, e o GPS que usamos no carro ou no celular?” Quis saber a Lú.

“O que chamamos de GPS no carro ou celular é um roteador.” Informou o Pedro.

“Rastreador, roteador.” Estou confusa, afirmou a mãe da Meli.

“Roteador ou navegador, usa a informação do GPS e de um mapa digital para criar uma rota entre dois pontos e assim calcular a distância, o tempo e informar ao usuário passo a passo como chegar a seu destino partindo de um ponto qualquer, normalmente do ponto onde se encontra o usuário.”  Esclareceu o Pedro.

“Tudo bem, mas como eu consigo um rastreador?” Perguntou a Meli, sendo prática.

“Você pode usar o meu.” Ofereceu o Pedro.

“Como assim?” Perguntou a Lú.

“No quarto que ainda tenho ai na nossa casa, na gaveta do criado mudo, há o rastreador que usei para seguir minha ex. Como não estou usando, está disponível.” Esclareceu o Pedro.

“Muito obrigado.” Agradeceu a Meli e continuou “Você pode ajudar com a app?”

“Claro que sim, assim que vocês tiverem o rastreador em mão, me chamem.”

Foi tudo rápido, a Melí e mãe subiram no quarto que era do Pedro e depois de uma busca rápida encontraram o rastreador. Chamaram o Pedro novamente e ele ajudou a baixar a app para o telefone da Melí e da Lú e as ensinou como usar o sistema. Combinaram de fazer um teste real entre as duas no dia seguinte, cada uma com seu carro, a Meli seguindo a Lú e depois a Lú seguindo a Meli.

O teste foi muito bem sucedido, elas conseguiram sem muito problema seguir uma a outra a uma distância variando de meio quarteirão a um quarteirão inteiro.

Depois do teste se encontraram.

“Como vamos instalar o rastreador no carro do Romão?” Perguntou a Meli logo que se encontrou com a Lú, para um café e discutir próximos passos.

Pensaram nas possíveis oportunidades. Instalar o rastreador quando o carro estivesse na casa do Romão ou no escritório eram as duas melhores opções. Ao final decidiram que a Meli iria marcar um encontro com o Romão na casa dela e a Lú iria grudar o aparelho no carro do Romão.

Excitadas as duas com o trabalho de detetive que estavam fazendo, começaram a seguir o Romão. Hora uma hora outra. Se encontraram no final de semana em um barzinho para comparar notas.

“Não vi o Romão se encontrar com nenhuma mulher.” Disse a Melí iniciando a conversa.

“Eu também não. Peguei ele indo para o escritório, visitar a mãe dele, sair à noite com amigos para assistir jogo de futebol, celebrar nada muito especial. Só uma vez uma pessoa entrou no carro dele.” Informou a Lú.

“Foi uma mulher?” Quis saber a Melí demonstrando ansiedade.

“Não foi um amigo dele, bêbado como uma porta, que ele levou para casa.” E continuou “Mas notei uma coisa estranha.”

“O que?” Perguntou a Meli apressadamente.

“Ele dava muitas voltas”

“Como assim?”

“Para ir de um lugar ao outro ele fazia caminhos complicados, perdia muito tempo.”

“Interessante você dizer isto, eu também notei.” Disse a Meli, com um ar pensativo.

“Porque será? Não faz sentido.” A Lú perguntou e afirmou ao mesmo tempo.

As duas ficaram pensando, dando tratos a bola, mas não conseguiram saber o porquê daquele comportamento estranho do Romão.

“Algo está se passando naquele carro.” Afirmou a Meli.

“’Sei lá.” Disse a Lú com ar de quem estava desistindo.

“Precisamos saber.” Afirmou a Meli, querendo descobrir o mistério.

“Se você acha que algo está se passando o que poderíamos fazer é tentar gravar o que acontece quando o Romão está usando o carro.” Aventou a Lú.

“Você diz, instalar uma câmera no carro?” Perguntou a Meli na dúvida.

“Acho que algo mais simples.”

“O que?”

“Você poderia “esquecer” seu telefone no carro dele.”

“Mas seria possível gravar, áudio e vídeo?” Perguntou a Meli.

“Eu acho que sim, mas o melhor seria perguntar ao Pedro.” Propôs a Lú e imediatamente ligou para o irmão.

O Pedro não só disse que era possível como ensinou as duas como fazer.

“Nosso trabalho de detetive vai estar usando os últimos avanços da tecnologia.” Afirmou a Lú se despedindo do irmão.

Tomaram um pequeno cálice de vinho licoroso para celebrar o que haviam decidido.

Mas havia um problema. Para “esquecer” o telefone no carro do Romão era necessário que a Melí saísse como o Romão duas vezes em seguida. A primeira para colocar o aparelho e a segunda para retira-lo.

Acharam melhor confabular com a mãe da Meli e foram até a casa Meli que como sabemos ainda morava na casa dos pais.

“Você tem que convida-lo para irem a algum lugar de interesse dele.” Observou a mãe da Meli.

“Sim, mas qual?” Seria uma pergunta da Marli, mas quem perguntou foi a Lú.

“Vocês são as que devem saber.” Disse a mãe da Meli, olhando para a Lú porque achava que ela era a que podia ajudar. E estava certa.

“Tenho uma ideia.” Ofereceu a Lú.

“Qual?” Perguntaram em uníssono a Marli e a mãe dela.

“Comprar entradas para o show daquela dupla musical que o Romão gosta tanto e convidá-lo. Acabei de saber que o show começa hoje e vai ficar em cartaz por pelo menos um mês.”

“Muito boa ideia.” Concordou a Marli que sabia bem como o Romão era fã da dupla. Tinha todos seus discos e sempre escutava as músicas deles no spotify.

E assim as três definiram o plano para o próximo fim-de-semana. Iriam comprar ingressos para o show, sábado seria o melhor dia, convidar o Romão para o espetáculo dizendo que alguém havia obsequiado o pai da Marli com as entradas e ele e nem a esposa tinham interesse em ir.

O Romão aceitou o convite de imediato e foi assim que a Meli “esqueceu” o telefone no carro dele. Mas nem tudo ocorreu como programado.

No domingo de manhã a Lú ligou para a Meli.

“Como foi o show?” Perguntou.

“Foi muito bom. Eu não sou muito fã de dupla sertaneja, mas foi divertido.”

“E a gravação?”

“Tive que deixar o telefone em baixo do banco de passageiros. Apesar de ter escurecido a tela do telefone o mais possível, fiquei com receio que o Romão descobrisse o telefone e a gravação. Não creio que a gravação de vídeo vai ser de alguma valia.” Respondeu a Meli.

“Como você vai retirar o aparelho?” Quis saber a Lú.

“Estive pensando. Acho que vou esperar alguns dias e depois agir rápido.”

“Como assim?”

“Na quarta-feira, logo cedo, depois que o Romão chegar ao escritório, ligo para ele e digo que estou procurando um cartão de crédito, não consigo achar e que talvez tenha deixado cair dentro do carro.”

“Entendi, mas se ele for procurar pelo cartão de crédito, vai encontrar o telefone.”

“Exato. Mas vou dizer que estou no prédio dele e vou pedir a chave do carro para dar uma olhada. Eu sei que nas quartas-feiras ele normalmente participa de uma reunião.”

“E se ele recusar a dar a chave?” Perguntou a Lú preocupada.

“É uma possibilidade, mas se isso acontecer vou ter que ter uma conversa séria com ele, talvez terminar a relação.”

“Não pense assim amiga. Seria uma atitude drástica. Vamos pensar positivamente.” E continuou “Se ele te der a chave, como espero, você vai poder além de retirar o telefone  revistar o carro procurando por alguma outra pista.”

“Verdade, porque quando fomos para o show, aconteceu uma coisa um pouco fora do normal.”

“O que amiga?” Perguntou a Lú interessada.

“O Romão não sabia ao certo como chegar ao teatro. Sugeri a ele usar o GPS do carro e ele disse que não. Acabou usando o GPS do telefone dele. Não entendi porque o carro dele que eu saiba tem um GPS muito sofisticado.” E logo corrigiu “GPS não, navegador.”

“Não está dando mesmo para entender o comportamento do Romão.” Disse a Lú pensativa.

Assim se despediram marcando um encontro na quarta-feira a noite para rever a possível gravação.

Na quarta-feira, a Meli não teve problema em conseguir a chave do carro do Romão, retirou o telefone, revistou o carro e não encontrou nada fora do normal. A única coisa é que o carro estava um pouco sujo. Ela pensou em limpa-lo, mas achou melhor não.

Como esperado o vídeo só mostrava a parte de baixo do assento, mas o áudio foi muito revelador!

Estavam no quarto da casa da Meli. A mãe da Meli se juntou a elas e trancou a porta o pai da Merli não escutar. Começaram a ouvir atentamente a gravação.

Ouviram nitidamente o Romão entrar no carro assobiando e bater a porta. Alguns segundos depois ouve-se uma voz melodiosa de mulher dizer em francês:

“Diga em voz pausada seu destino.”

As três mulheres se entreolharam sem saber o que estava acontecendo, não entendo o que havia sido dito.

“Casa.” Disse o Romão também em francês.

Deste ponto em diante o que as mulheres ouvem são comandos em voz pausada e melodiosa, tudo em francês.

“A 500 metros entre a direita. Entre a direita. A 200 metros dê meia volta. Siga adiante por 2 quilômetros e assim por diante.”

Em um ponto da gravação o Romão responde:

“Oui ma chérie.”

Foi demais para as três mulheres, deram uma pausa no áudio.

“Alguém está entendendo o que está acontecendo?” Perguntou a mãe da Meli.

“O Romão está usando o GPS.” Disse a Meli afirmando o óbvio.

“GPS não, navegador.” Corrigiu a Lú e continuou. “Parecem claramente comandos de navegação, mas porque em francês?”

“Sei lá.” Disse a Meli e com um ar de preocupação continuou “E esse negócio de “Ma chérie”, não quer dizer querida?”

“Acho que ele está apaixonado pela mulher do GPS.” Afirmou a mãe da Meli sem pensar.

As duas olharam para a mãe da Melí com cara de assombro.

Ficaram assim alguns segundos pensativas. A Lú desta vez não corrigiu a mãe da Meli, e simplesmente disse:

“Vamos ouvir mais.”

O resto da gravação mostrou praticamente a mesma coisa. O Romão toda vez que entrava no carro, dizia ao navegador onde ir e saia dirigindo. O curioso é que ele dava ao navegador destinos que ele estava cansando de saber como chegar, por exemplo, voltar do escritório para casa. Este destino elas sabiam ele seguramente não necessitava de ajuda. Além disso, as mulheres conseguiram compreender apesar do francês, que na maior parte das vezes ele não seguia o que a mulher do navegador indicava. Ia por outros caminhos, parecia não se importar com os constantes comandos da voz melodiosa para que ele desse meia volta.

Quando a gravação chegou ao fim a Lú quis saber:

“O que concluímos de tudo isto?”

“Concluímos que o Romão usa muito o GPS mas não quando eu estou com ele.” Disse a Meli outra vez declarando o óbvio.

“Parece que ele adora ouvir a voz da mulher do GPS.” Insistiu a mãe da Meli.

“Vou tirar isto a pratos limpos.” Declarou a Meli.

E assim a reunião no quarto da Meli terminou. No dia seguinte ela ligou para o Romão e disse que queria sair para jantar com ele no sábado e que não aceitaria desculpas. Para sua surpresa da Melí o Romão imediatamente aceitou.

O Romão veio busca-la em casa. Tão logo entrou no carro, a Meli ordenou ao Romão.

“Quero que você ative o navegador!”

“Navegador?”

“Sim, o GPS.”

“Porque? Eu sei ir ao restaurante.”

“Porque eu quero saber como funciona.”

O Romão hesitou um pouco, mas atendeu o pedido e em francês deu o nome do restaurante para a voz melodiosa do navegador. Demorou um pouco porque haviam outros restaurantes com nomes parecidos e o Romão teve que escolher o certo usando a roda selecionadora que ficava na console do carro.

Quando o Romão se preparava para sair com o carro a Meli perguntou?

“Porque em francês?”

“É que resolvi aprender francês e o GPS, digo navegador, é uma maneira muito boa de treinar o ouvido.”

“Ah! Que bom que você está aprendendo outra língua.” Disse a Meli achando que o mistério tinha sido esclarecido.

Entretanto, logo que saíram ela notou uma mudança no comportamento do Romão, ele parou de conversar com ela, parecia absorto, distante, as vezes suspirava, parecia excitado.

A voz melodiosa que saia dos poderosos alto-falantes do carro, começaram a tomar conta da Melí. Seus pensamentos sumiram, ela só conseguia prestar atenção na voz, tudo o mais parecia distante. Começou a sentir um calor subindo cada vez mais pelas pernas. De repente sentiu vontade de tirar a blusa e começou a desabotoar, nem chegou a terminar. Quando o calor subiu um pouco mais acima, ela balbuciou:

“Romão, não estou aguentando.”

O Romão sentindo uma excitação muito forte, percebeu o que estava acontecendo com a Melí e esquecendo completamente o jantar decidiu levar o que os dois estavam sentindo até o fim.

Ele não poderia saber naquele momento que as ações que tomou a seguir iriam lhe sair muito caro!

Mudou de direção, sabia onde ir. Uma rua estreita com pouca iluminação que tinha de um lado uma parede alta sem janelas pertencentes a uma fábrica que por ser fim-de-semana não estava funcionando. Do outro lado da rua havia um muro alto pintado de branco, que não dava para ver o que tinha atras.

Por ser a rua estreita, o Romão decidiu estacionar o carro com as duas rodas direitas na calçada perto do muro. Nem havia terminado de estacionar, quando a Melí avançou sobre ele depois de ter aberto levemente o vidro do lado dela. Abrir o vidro foi instintivo, ela sabia que iria precisar de ar para os vidros não embaçarem.

Estavam no melhor da festa, praticamente em transe, se agarrando mutuamente, quando ouviram vindo de cima do muro uma voz que ressoou como se fosse uma trovoada.

“Que pouca vergonha é essa. O que vocês estão fazendo?”

A Melí teve o maior susto da sua vida e sem perceber deu um apertão tão forte no membro do Romão que ela estava segurando, que o Romão de susto e de dor, deu um grito a todos pulmões.

Nem procuraram saber de quem era a voz, o Romão desajeitadamente, gemendo de dor ligou o carro e seminus deixaram o local às pressas. Do espelho retrovisor o Romão viu um vulto de homem em cima do muro olhando na direção deles. Parecia estar rindo.

Episódios marcantes, sustos, medos muitas vezes trazem sequelas. Foi o que aconteceu com o Romão. Ficou impotente! Não podia acreditar, ele Romão o homão, não conseguia mais!

A Melí foi muito compreensiva sugeriu que ele visitasse um urologista e foi com o Romão até o consultório médico. O Romão achou melhor ela não entrar na sala de exame com ele. Ela aceitou meio a contragosto porque queria saber o que estava acontecendo com o namorado.

O Romão explicou o problema, o médico fez várias perguntas e logo deu seu parecer:

“Este é um problema mais psicológico do que físico.” E continuando “Eu acho que é algo temporário que vai se resolver por si só, com o tempo, mas sugiro que você consulte um especialista, um analista.”

“Quanto tempo pode durar?” Perguntou o Romão.

“Isto eu não sei, pode ser alguns dias, uma semana, meses ou até alguns anos.”

“Alguns anos, meu Deus!” Disse o Romão com a voz embargada.

“Se você quiser, eu posso receitar um medicamento para garantir a ereção.” Propôs o médico se condoendo da situação do Romão.

“Isto eu não quero.” Disse o Romão, demonstrando um certo orgulho.

“Bem então meu conselho é que você procure um analista e procure relaxar, não ficar pensando nisso. Tenho certeza que irá ajudar.”

A Meli e Romão foram tomar um café para conversar sobre o resultado da consulta médica.

“Não sei se quero consultar um analista, eu estou muito bem da cabeça.” Informou o Romão depois de haver contado a Melí o que o médico havia dito.

“Eu também acho que não é preciso. Como ele disse é coisa temporária, logo vai passar.” Disse a Meli, demostrando empatia e dando uma força para o Romão.

“Creio você tem razão.” Concordou o Romão.

“Eu ajudo.” Concluiu a Meli.

Deste dia em diante a vida dos dois melhorou muito. A relação ficou muito mais forte. Saiam frequentemente juntos, iam jantar fora, museus, passeios. Até jogos de futebol iam assistir.

A Lú chegou a comentar com a Melí.

“Puxa como você e o Romão estão se dando bem. Parecem casados.”

“Melhorou mesmo.”  Concordou a Meli.

“Mas você não sente falta?” Perguntou a Lú com um sorriso maroto.

“Claro que sim, mas estou me contendo, quero ajudar o Romão a superar esta crise.”

Passaram uns seis meses. O Romão e a Meli saíram para ir ao teatro. Terminado o espetáculo, já era um pouco tarde o Romão estava se dirigindo à casa da Meli, quando comentou.

“Não sei estou sentindo algo, assim como antigamente.”

A Melí logo entendeu, e para surpresa do Romão, disse sem se importar de usar o termo correto:

“Liga o GPS.”

Não seguiram nem de perto o que a voz comandava, foram dando voltas e mais voltas escutando aquela voz doce, sentindo o sangue ferver no corpo. Pararam em um motel.

Depois de fazer amor alucinadamente, não conseguiam dormir.

“Você está definitivamente curado.” Comentou a Meli.

O Romão não pode deixar de fazer aquela pergunta.

“Foi bom para você?”

“Foi maravilhoso. Nunca senti tanto.” E continuou “Só faltou uma coisinha.”

“O que?” Perguntou o Romão apreensivo olhando para si próprio.

“O GPS, faltou o GPS.” Disse a Melí virando os olhos.

“Você queria aquela voz junto conosco?”

“Sim.” Foi a resposta curta da Meli.

“Assim como um ménage?”

“Exatamente.” Foi a resposta despudorada da Melí.

“Mas não é possível. Só funciona no carro e ainda assim com o carro em movimento.” Esclareceu o Romão sem saber que a Melí já havia pensado no assunto.

“E se fizéssemos uma gravação de uma rota bem longa para ouvir depois?”

 

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *