Futi

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Será que essa gente percebeu
Que essa morena desse amigo meu
Tá me dando bola tão descontraída
Só que eu não vou em bola dividida
Pois se eu ganho a moça eu tenho o meu castigo
Se ela faz com ele vai fazer comigo

Trecho da música Bola Dividida de Luiz Ayrão

 

Ele havia planejado tudo meticulosamente, aquele jogo não ia acabar bem. As ações culminando no evento prestes a acontecer demoraram meses. Nada foi deixado ao acaso.

Do outro lado do campo ele reconheceu seu rival. Era um pouco mais alto do que ele. Melhor ainda pensou, quanto maior a árvore, maior o tombo.

Os preparativos para jogo estavam chegando na fase final. Os treinadores de ambos times se encontraram no meio do campo para a conversa final antes da partida começar. O juiz da partida estava com eles.

Foi então que o meticuloso plano veio por água abaixo, foi uma surpresa que deixou o Manuel sem saber o que fazer.

O Manuel era um excelente jogador de futebol, futi como ele costumava dizer sem querer esnobar, porque foi uma palavra que ele aprendeu quando visitou a Inglaterra. Lá eles abreviam e chamam carinhosamente o futebol-soccer de footy. O Manuel aportuguesou o apelido e daí em diante sempre que se referia ao futebol usava a forma mais simples, futi. Seus amigos que no princípio acharam engraçado, aderiram ao novo formato também.

Quase se tornou jogador profissional. Um clube importante havia tentado incluí-lo, ainda adolescente, na sua escola de futebol. Quando completou 16 anos o clube queria que ele assinasse um contrato para se tornar professional.

A mãe não aprovou e fez de tudo para que ele desistisse da ideia. Ela achava que não havia futuro na profissão e que poucos conseguiam realmente se sobressair e ganhar bem sendo jogadores de futebol. A maioria dos jogadores vivia de parcos salários presos aos clubes em prejuízo dos estudos. Se por acaso se saiam bem e adquiriam alguma fama o perigo então era maior. Quantos atletas de talento perderam tudo com mulheres, bebidas e drogas.

Esta realidade criava uma grande apreensão na mãe do Manuel.

Para justificar, a mãe do Manuel citava como exemplo o nome de jogadores que se deixando levar pela fama e dinheiro perderam tudo e terminaram a vida ainda jovens sem nada, dependendo de ajuda de amigos, fãs e familiares.

Na ponta da lista estavam entre muitos outros, Garrincha, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, que todos sabem teve 13 filhos com várias mulheres e morreu antes de completar 50 anos de cirrose hepática causada pela bebida. As drogas não eram muito populares naquela época.

Outro também devoto de festas, Marcelinho Paraíba, jogou na Alemanha e ficou famosos pelas festas que dava e por levar quantidade enorme amigos para a Europa. Até banda de Samba e Axé ele importava para as celebrações que patrocinava. Tudo pago por ele. Terminou na miséria.

Na lista da mãe do Manuel havia até um estrangeiro, George Best.

George Best foi um dos maiores jogadores da Inglaterra. Nascido na Irlanda do Norte, ficou famoso pelos seus dribles desconcertantes, coisa que na época só jogadores brasileiros habilidosos faziam. Ficou, entretanto, conhecido pelos primorosos e requintados gols. George Best ganhou rios de dinheiro durante sua breve carreira, mas perdeu tudo pelos excessos. Interessante é que nunca se arrependeu. Em uma entrevista que deu antes de falecer aos 59 anos, disse que a maior parte do dinheiro que ganhou, gastou com mulheres, bebidas e drogas e deixou o entrevistador sem palavras quando afirmou que o restante ele havia desperdiçado. Viveu a vida a toda velocidade, correndo pela pista rápida.

O que o Manuel poderia haver ganho se tornando jogador profissional foi compensado por haver estudado. Se formou advogado e tinha seu próprio escritório de advocacia que abriu com dois outros colegas de profissão. Apesar do vai-e-vem da economia, o escritório se tornou conhecido, proporcionando um rendimento excelente para os sócios.

Casou bem, a esposa de uma família abastada, linda, era um exemplo de mãe. Tiveram dois filhos, duas meninas, que no dia do jogo, estavam com quatro e seis anos de idade. Por coincidência nasceram no mesmo mês, dias a parte. Pelo que tudo indicava, as meninas, quando crescessem seriam tão bonitas quanto a mãe.

A Márcia era o orgulho do Manuel, principalmente quando saíam. Sempre impecável, se vestia bem, fazia inveja as mulheres dos amigos e era admirada por todos. Os amigos mais chegados, vez ou outra brincavam com o Manuel.

“Cuidado Manuel, quem tem uma esposa bonita como a sua, precisa estar sempre alerta.” Diziam eles com um sorriso maroto.

O Manuel não se importava, levava na brincadeira, tinha total confiança na Márcia, que nunca havia demonstrado o mínimo sinal de interesse por outro homem.

Entretanto agora, ele se arrependia. O pânico tomou conta dele, causando um caleidoscópio de sentimentos e pensamentos. Ah! se ele soubesse, jamais teria dado aquele presente para a Márcia. Seria melhor não saber.

Também culpava a conhecida companhia de tecnologia que em pouco tempo, no afã de lucrar, tornou obsoleto o smartphone da Márcia. O aparelho muito bom, funcionava bem, mas as atualizações constantes que a companhia fazia no software, atualizações que o Manuel achava desnecessárias, causavam problemas para as aplicações que a Márcia estava acostumada a usar, e muitas delas exibiam problemas ou simplesmente paravam de funcionar.

Mas estas eram desculpas, no fundo o Manuel sabia que o culpado era ele mesmo. Quando saia com amigos para festas, jantares ele dava à Marcia total atenção, mas o mesmo não acontecia no dia-a-dia, em casa.

Conversavam pouco, principalmente depois de algumas brigas que tiveram. Brigas por causa do trabalho. No início o Manuel contava para a Márcia o que acontecia no escritório, os processos que ele cuidava, as desavenças com os outros sócios, ela comentava. Mutas vezes os comentários dela não agradavam ao Manuel, achava em ela não lhe dava razão, que estava mais ao lado dos sócios e clientes do que do lado dele. As desavenças no escritório se transformavam em brigas em casa.

Para evitar esta situação o Manuel começou a se retrair. Já não comentava sobre o trabalho. As conversas em casa com a Márcia, eram sobre coisas práticas e giravam em torno das crianças, muito pouco além disto.

O Manuel também não percebeu os sinais. Havia dias que ele sentia a Márcia distante, triste, enquanto outros dias ela aparecia alegre, sem motivo aparente. Muitas vezes ele notou a Márcia sorrindo, como se estive sorrindo para ela mesma, mas nunca tentou saber porque.

E o smartphone, outro sinal na cara dele que ele não percebeu, ela não largava do aparelho. Passava todo o tempo que dispunha nos aplicativos de mensagens. O Manuel achava que ela trocava mensagens com as amigas, e que isto era uma boa distração. Evitava as perguntas sobre o trabalho dele.

Quando depois de uma atualização a Márcia começou a reclamar que algumas aplicações não funcionavam bem, o Manuel pediu o smartphone para dar uma olhada. A reação da Márcia foi inesperada. Ela disse que não era preciso, que ela mesma iria ver.

O Manuel não pensou mais no assunto, mas frequentemente via a Márcia irritada com o aparelho. Claramente algo não funcionava bem.

Foi quando O Manuel teve a ideia: “Vou comprar um smartphone novo para o aniversário da Márcia.” Pensou e gostou muito da ideia.

Uma coisa que o Manuel detestava, sem dizer, era comprar presente. Não que ele não gostasse de dar presentes, sim gostava, mas não sabia o que comprar. Comprar presentes para a Márcia era um tormento. Já havia desistido há muito tempo de comprar joias ou roupas. Várias joias caras que ele deu de presente, nunca viu a Márcia usar. Roupa acessórios, bolsas e sapatos então, nem falar. Era dar o presente e a Márcia pedir a nota para ir trocar ou receber o dinheiro de volta. Como muitos homens ele não tinha ideia do que a esposa gostava, também não sabia como combinar padrões e cores.

Por isso a ideia do smartphone era muito boa, disto ele entendia. Ele iria comprar o modelo mais atual, o mais caro. Certamente a Márcia iria adorar.

Convidou os amigos mais próximos para o jantar de celebração do aniversário da esposa, ao todo oito casais.

O jantar transcorreu em um clima da maior camaradagem. O restaurante servia de tudo, mas a especialidade era frutos do mar. O Manuel tinha selecionado de antemão um vinho branco da Nova Zelândia, por isso a maiores dos comensais pediram peixe e mariscos. Uma delícia.

Quando chegou o momento da sobremesa, antes de entregarem os pedidos, os garçons rodearam a mesa do grupo. Entregaram à Márcia um bolo enorme com uma vela decorativa acesa e cantaram os parabéns em duas vozes. Todos na mesa participaram e clientes de outras mesas ouvindo a celebração cantaram também e aplaudiram muito quando a Márcia apagou a vela.

Enquanto estavam saboreando o bolo e as respectivas sobremesas, o Manuel se aproximou da esposa e com um beijo deu a ela o presente.

Os homens não notaram, mas as mulheres perceberam uma leve apreensão no rosto da Márcia quando ela abriu o presente e viu que era um smartphone. Mas foi quase imperceptível, a Márcia logo desprendeu um sorriso, se levantou e abraçou o marido ante aos aplausos de aprovação de todos.

Quando Márcia mostrou o aparelho para os amigos, uma das esposas perguntou:

“Como você vai transferir seus contatos e informações para este novo aparelho?”

A Márcia ia responder quando o Manuel interrompeu.

“Eu mesmo vou fazer.” Disse ele, e mais uma vez as mulheres notaram algo raro no semblante da Márcia. Os homens que no geral não se dão conta de nada, nem perceberam.

Logo no dia seguinte o Manuel pediu à Márcia o smartphone dela para transferir os dados para o novo.

“Depois, agora não.” Argumentou a Márcia.

“Porque? Não gostou do novo aparelho?” Perguntou apreensivo o Manuel imaginando que mais um presente dele iria ser trocado.

“Gostei sim, muito. Ë que quero rever o tenho no smartphone e aproveitar fazer uma limpeza, deletar coisas que não preciso, antes da transferência.”

O Manuel achou que fazia sentido, ficou esperando, mas teve que lembrar a Márcia várias vezes antes que ela finalmente entregasse o aparelho para ele.

“Quais os números da senha do seu smartphone?” Perguntou o Manuel antecipando que iria necessitar para fazer a transferência dos dados.

A Márcia forneceu os números, e perguntou.

“Vai demorar? Não queria ficar muito tempo sem o smartphone.”

“Não, hoje mesmo faço.”

Não demorou muito para o Manuel instalar as aplicações que a Márcia usava, fazer um backup e transferir os dados. Logo entregou o novo aparelho para a Márcia.

“Transferi tudo, coloquei a mesma senha do anterior. Veja você se tudo está funcionando bem.” E em tom de brincadeira continuou: “Se houver algum problema me avise, o trabalho que fiz tem garantia.”

A Márcia sorriu e prontamente começou a usar o novo aparelho e com uma sombra de dúvida perguntou.

“E o número do telefone, também é o mesmo?”

“Sim, transferi o chip para o novo. Então suas ligações e mensagens são como se fosse no velho. Se alguém ligar para seu número, toca o novo aparelho.”

“Ah! Que bom.” Exclamou a Márcia e acrescentou:

“E o que você vai fazer com o velho aparelho?”

“Vou ficar com ele algum tempo, para ter certeza que tudo está bem com o novo. Depois vou pensar o que fazer com ele. Como é antigo, não vale nada.” E continuou: “Vou talvez doar para alguém ou jogar fora.”

Dois dias depois a Márcia com uma dúvida e perguntou ao Manuel.

“Não estou conseguindo adicionar novos contatos na aplicação que mais uso.”

Para responder a esta pergunta, o Manuel quis saber como era esta função no aparelho antigo. Se fez valer de um backup que havia na nuvem.

Ficou abismado com o que viu.

A Márcia havia limpado bem os contatos e mensagens no velho aparelho, mas se esqueceu, ou não sabia dos backups na nuvem.

Pesquisando o arquivo o Manuel descobriu as mensagens do Marco Antônio e as respostas da Márcia. Voltou atras, no ano anterior quando tudo começou. Ele não podia acreditar!

Repassou todas as mensagens, uma por uma. Soube dos encontros das palavras melosas que trocaram. O Manuel tentou descobrir, mas não conseguiu saber exatamente quando o caso deles realmente começou, quando se tornaram íntimos. O que ficou sabendo é que a Márcia usava um nome completamente diferente e se fez passar por solteira. Notou que a Marcia sabia que o Marco Antônio era casado, imagine!

O Manuel desabou!

Pensou em tomar uma atitude drástica, comprar um revólver, assassinar, acabar com a vida deles. Primeiro um depois o outro. Melhor, surpreender os dois juntos e cometer um crime duplo. Sonhava com isto, não dormia.

Culpou uma gripe forte para justificar à Márcia as noites mal dormidas e os ataques de pânico. Fez de tudo para demonstrar que não sabia de nada.

Depois de uma semana com a mente um pouco mais lúcida, concluiu que assassinato não iria resolver nada. Pensou nas filhas. Imaginou as meninas sem a mãe e com o pai na cadeia ou morto. Ele não poderia fazer isto com elas.

Mas isso não podia ficar assim, tinham que pagar. Primeiro o Marco Antônio, depois a esposa. Começou a elaborar um plano para se vingar do rival.

Tentou saber tudo sobre o Marco Antônio, pesquisou na internet, encontrou pouca coisa. Aparentemente o Marco Antônio não usava redes sociais nem era muito conhecido, mas conseguiu através de postagens de terceiros, saber que o Marco Antônio jogava futebol todo domingo de manhã. Fazia parte de um time de várzea. Conseguiu até uma foto do time dele, onde ele aparecia.

Um jogo de futi, seria o ideal para a vingança.

Um bom jogador de futebol, sabe como machucar disfarçadamente. Sabe como cair fingindo que recebeu uma falta grave. Ele sabia que poderia causar um dano enorme ao Marco Antônio, parecendo um acidente no campo, sem ninguém perceber.

Foi assistir alguns jogos.

O time no qual o Marco Antônio jogava era um dos mais fracos daquele grupo e o Marco Antônio um jogador sofrível. Jogava no meio campo, mas distribuía mal o jogo. Não viu o Marco Antônio marcar nenhum gol.

O plano foi tomando forma.

Decidiu conversar com o treinador de um time rival. Um dos mais fortes times daquela competição.

“Notei que seu time está precisando de um ponta-direita. Eu jogo nesta posição, posso fazer parte do seu time?” Interpelou o Manuel durante o intervalo de um dos jogos.

“Você é bom?”

“Dá para o gasto.” Foi a resposta curta do Manuel.

“Quer jogar agora?” Disse o treinador surpreendendo o Manuel.

“O que devo fazer?”

“Vai ao vestiário, fale com o Zeca e diga a ele para lhe dar um uniforme que você vai entrar no segundo tempo.”

Já haviam transcorrido dez minutos do segundo tempo, quando o Manuel entrou em campo. Não quis mostrar tudo que sabia. Jogou bem, mas se conteve. Terminado o jogo o treinador disse que ele poderia fazer parte do time. O ponta-direita estava se recuperando de uma lesão e por isso o time estava desfalcado.

O Manuel começou a jogar todos domingos. Não foi surpresa para a esposa. O Manuel sempre jogou futebol, não tão assiduamente, por isso não causou nenhuma suspeita.

O time do Manuel sempre ganhava, mesmo com ele não mostrando tudo que sabia. Uma vez ou outra fazia uma boa jogada, mas fazia de tal forma que parecia mais sorte do que habilidade. Estava esperando a oportunidade de jogar contra o time do Marco Antônio.

Pela tabela de jogos, seria no domingo seguinte.

O Manuel se preparou, pensou e repensou nas jogadas. Imaginava como e onde acertar o Marco Antônio. Ajudava o fato do Marco Antônio jogar no meio campo, um pouco longe dos olhares do público. A intenção do Manuel não iria aparecer mesmo que alguém estivesse gravando a partida.

Um plano praticamente perfeito.

O que o Manuel não sabia é que o ponta-direita, titular do seu time, havia voltado e iria jogar, justo naquele domingo, o dia da vingança. O Manuel em principio ficaria no banco de reservas. Como o adversário era fraco, o treinador concluiu que seria uma boa oportunidade para confirmar que o ponta-direita titular estava realmente apto a jogar. O Manuel poderia entrar no segundo tempo.

Mas, o plano do Manuel ficou completamente inútil quando o treinador voltou do campo depois da conversa com o juiz e treinador do time adversário.

“Manuel, venha cá.” Chamou o treinador tão logo se juntou ao time.

“Sim, o que foi?” Perguntou o Manuel, esperançoso talvez fosse jogar logo no primeiro tempo.

“Você vai jogar no time deles.” Declarou o treinador.

“O que?” Exclamou o Manuel perplexo.

“É que eles estão com um a menos e o juiz não quer nem começar o jogo se não estiverem onze em campo.” Esclareceu o treinador.

“Mas isto é completamente inaceitável.” Retrucou o Manuel e pensou em sugerir que ambos os times jogassem com dez homens, mas logo desistiu da ideia. Se com onze ele já não iria entrar jogando, com dez então nem falar.

“Você está pensando que isto aqui é a copa do mundo? É jogo de várzea amigão. Aqui tudo é possível e aceitável.” Respondeu o treinador um pouco alterado.

“Não sei se vou querer jogar para eles não.” Disse o Manuel na dúvida.

“Olha Manuel, se você não jogar para eles, não vai ter jogo e eu não sei se você vai continuar no meu time.”

Foi claramente uma ameaça. O Manuel achou melhor aceitar e abandonar pelo menos por um tempo, o plano. Talvez até fosse bom, ele poderia conhecer melhor o Marco Antônio, descobrir os pontos fracos do rival, avaliar a melhor maneira de manda-lo ao hospital de concluir a vingança.

Os primeiros 25 minutos do jogo transcorreram sem muitas surpresas, depois a partida esquentou. O antigo time do Manuel, claramente mais forte, começou a atacar de forma mais organizada. Mas naquela tarde o goleiro do time do Manuel estava inspirado, pegava tudo. A atitude do goleiro motivou o time o time e criou oportunidades de contra-ataque. Mas como o time era fraco estas oportunidades eram logo desperdiçadas.

Bem no final do primeiro tempo o Manuel conseguiu desarmar, tomou a bola de um adversário antes do meio do campo e partiu em disparada para o gol.  Notou que o Marco Antônio corria à esquerda do campo se dirigindo-se também ao gol cercado por dois jogadores adversários.

Foi então que o Manuel errou acertando!

Errou porque queria chutar a bola para fora. Em sua mente, não queria marcar gol para não dar na vista nem dar oportunidade ao Marco Antônio ou outro qualquer de marcar.

Mas seu corpo pensava diferente, e por puro reflexo, intuitivamente chutou a bola com força para frente. A bola fez uma trajetória oval em frente do goleiro, evitando os defensores e caiu bem aos pés do Marco Antônio, que nem precisou mudar o passo. A bola praticamente bateu no pé do Marco Antônio e entrou no gol.

Foi uma alegria geral! Nunca antes o time no qual o Manuel estava jogando havia marcado um gol neste time adversário. Além disto, agora estava ganhando. Os poucos torcedores do time do Manuel, na maioria parentes dos jogadores, explodiram em aplausos e gritos. Quase invadiram o campo.

Mas a alegria maior foi do Marco Antônio. Quando ele se deu conta que havia marcado o gol, saiu em disparada, junto a outros companheiros na direção do Manuel que estava meio paralisado pelo erro que havia cometido. O Marco Antônio pulou em cima do Manuel para abraça-lo. Os dois caíram no chão. Os outros jogadores pularam em cima dos dois.

Foi então que o Marco Antônio surpreendeu a todos.

Ainda firmemente abraçado ao Manuel ele deu uma lambida no rosto do Manuel!

O Manuel não acreditando, atordoado, tentou se esquivar e se levantar. Só conseguiu algum tempo depois quando todos saíram de cima dele.

O jogo foi interrompido por vários minutos por causa da celebração dos jogadores. Logo que o jogo reiniciou o juiz apitou o final do primeiro tempo.

No vestiário a celebração e a excitação continuava. Os jogadores riam, gritavam. O único que não participava era o Manuel.

Um deles lembrou da lambida.

Foi uma gozação total. Olhando para o Marco Antônio os jogadores mostravam a língua e faziam sons imitando latidos de cachorro. Nem o Manuel pode se conter e até riu com os companheiros.

A algazarra só terminou quando o treinador chamou os jogadores para o segundo tempo.

O time adversário começou o segundo tempo ainda mais disposto a ganhar o jogo. Mas o goleiro não deixava.

Ser goleiro de time de futebol é ser injustiçado. Se o goleiro não sofre nenhum gol, simplesmente fez seu trabalho. Mas mesmo reconhecido como sendo muito bom goleiro, se sofre um infortúnio, uma bola que escapa das mãos ou passa por entre as pernas, pronto, passa a ser chamado de frangueiro.

O goleiro do time do Manuel havia engolido vários frangos no passado, mas não neste jogo.

Para ser um bom goleiro várias coisas são necessárias. Primeiro ser um bom atleta, se posicionar bem, saber saltar, saber ler os atacantes, principalmente na cobrança de penalidades, mas sobretudo tem que ter sorte. Em um pênalti por exemplo. O goleiro pode saltar em um canto e cobrador da falta pode chutar no meio do gol. Impossível salvar o gol, mas há casos em que a bola sem querer bate no pé do goleiro e vai para fora. Pura sorte. Mas todos comemoram como se o goleiro fosse o máximo.

O goleiro do time do Manuel estava com muita sorte neste dia e isto estava motivando o time.

Na metade do segundo tempo uma confusão na área adversária, a bola pipocando em um bate rebate acabou caindo nos pés do Manuel. Ele estava de costas para o gol. Ele não queria, mas inconscientemente ajeitou a bola e bateu de calcanhar.

Gol!

Foi demais, ninguém estava acreditando. Dois a zero. E com um humilhante gol de calcanhar. Nunca visto.

Quase terminou o jogo. A celebração foi tanta que parecia que os jogadores não queriam voltar a jogar. Felizmente desta vez o Marco Antônio não lambeu ninguém.

O jogo continuou e o time adversário com os jogadores cansados e frustrados não conseguiram fazer mais nada. Pela primeira vez em todas competições o time que o Manuel relutantemente participava ganhou do time que originalmente era o dele.

Mas houve consequências.

Quando o Manuel voltou ao seu time oficial, foi interpelado pelo treinador.

“Você não joga mais no meu time.” Afirmou o treinador secamente.

O Manuel percebeu que seus antigos companheiros olhavam a ele com desdém. Ele tinha se transformado em inimigo. Apreensivo, com receio de ser atacado, O Manuel decidiu ir embora, mas foi seguido pelo Marco Antônio e o treinador do time no qual havia jogado.

“Queremos que você faça parte permanente do nosso time.” Propôs o Marco Antônio com anuência do treinador.

“Não sei, melhor não.” Respondeu o Manuel, com a cabeça dando voltas, sem saber direito o que pensar. Confuso em seus sentimentos.

“Podemos conversar?” Sugeriu o treinador e convidou o Manuel para ir tomar uma cerveja.

Sem raciocinar, o Manuel aceitou

Conversaram por longo tempo, mas o Manuel não queria se comprometer, queria a vingança, mas não sabia como proceder. Estava totalmente confuso. O plano que ele havia elaborado com tanta precisão não valia mais nada. Foi quando o Marco Antônio perguntou:

“Você é casado?”

Quase sem pensar o Manuel respondeu “Não!”

Como poderia ele dizer que era casado, a situação poderia se complicar. Poderiam querem saber quem era a esposa, iam perguntar de filhos. Melhor dizer que não era casado. Também quando perguntado não disse o sobrenome inventou outro. Todo cuidado é pouco.

“Vamos fazer o seguinte.” Disse o Marco Antônio e continuou. “Não precisa decidir agora. Estou pensando em fazer um churrasco na minha casa no sábado. Apareça para conversarmos. Vou convidar também os jogadores do nosso time. O que fizemos hoje, eu e você merece uma celebração especial. No churrasco conversamos um pouco mais.”

O Manuel sem saber como reagir prometeu ir à celebração.

Foi no churrasco que percebeu que havia outra maneira de se vingar do Marco Antônio. Pagar com a mesma moeda. E foi lá que decidiu fazer parte permanente do time do Marco Antônio.

A esposa do Marco Antônio era muito bonita, não tanto quanto a esposa do Manuel, mas compensava com um corpo perfeito, uma atitude agradável, sorria muito. Em casa, a vontade, apareceu com uma blusa branca de apliques e uma saia rodada colorida acima dos joelhos com barra de outra cor combinando. Sem saber bem porque, o Manuel a achou tremendamente sexy.

Ele que normalmente não prestava atenção e não distinguia o sentimento das pessoas, talvez pela traição da esposa, observando a Maitê, esposa do Marco Antônio, sentiu que ela sabia das traições do marido.

Resolveu se aproximar dela. Conversaram um pouco mas foram interrompidos pelo samba.

Os participantes da festa, principalmente os jogadores, improvisaram uma roda de samba. Um deles tocando violão outro um pandeiro. Logo apareceram outros com instrumentos. Um cavaquinho, um surdo, agogô. A música tomou conta e o baile começou.

A Maitê ensaiou alguns passos de dança e o Manuel ao lado dela acompanhou. Foi uma dança inocente, mas o Manuel sentiu um calor vindo da Maitê. A vontade dele era chegar bem perto dela, de sentir seu corpo colado, mas se conteve.

Quando a música parou por alguns instantes, o Manuel sussurrou uma palavra ao ouvido da Maitê.

“Adorei!”

O sorriso que a Maitê deu ficou indelevelmente gravado na mente do Manuel. Foi um sorriso de cumplicidade e ao mesmo tempo sensual, parecia que se conheciam a tempo que sabiam tudo um do outro.

Mas o sorriso deixou o Manuel apreensivo, temendo que o Marco Antônio desconfiasse de alguma coisa, do que ele estava sentindo naquele momento, da reação da Maitê, e durante toda a festa não conversou e nem dançou mais com ela.

Depois de um bom tempo e algumas cervejas acompanhando a picanha, linguiça, e outras delicias que saiam da churrasqueira, o Manuel resolveu ir embora. Ignorando as perguntas de “Porque tão cedo? Que tal outra cerveja? Não vai esperar a sobremesa?” foi se despedir do Marco Antônio.

“Já vai? Nem conversamos.” Reclamou o Marco Antônio.

“Está tudo bem, já decidi, vou fazer parte do seu time.” Disse o Manuel simplesmente para encurtar a conversa.

“Legal, companheiro.” Falou o Marco Antônio, abraçando o Manuel enquanto cantava o hino do time.

Desvencilhando do Marco Antônio o Manuel saiu do quintal, atravessou a sala e saiu pela porta da frente da casa.

À frente da casa encontrou a Maitê conversando com um grupo pessoas e se dirigiu a ela.

“Maitê, estou indo, muito obrigado por tudo o churrasco estava ótimo.”

“Eu tive pouco a ver com a festa, foi tudo organizado pelos rapazes.” Explicou modestamente a Maitê se afastando alguns metros do grupo.

“Porque não fica mais um pouco?” Pediu a Maitê, segurando a mão do Manuel.

O Manuel não esperava o gesto da Maitê, sentiu um calor subir pelas pernas, momentaneamente perdeu a fala, e balbuciou. “Tenho que ir.”

“Uma pena” Completou a Maitê

O Manuel então puxou o braço da Maitê e lhe deu na face, dois beijos de despedida. Quando deu o segundo beijo a Maitê disse baixinho ao ouvido do Manuel.

“Também adorei!”

O Manuel sentiu as pernas bambear saiu quase tropeçando tentando se lembrar onde havia estacionado o caro.

Nos meses que se seguiram praticamente tudo mudou no comportamento do Manuel.

Passou a levar a sério o futi. Não só participava do campeonato todos os domingos como se encontrava com o Marco Antônio nos sábados para treinar. Na verdade, ele estava treinando o Marco Antônio e ensinou a ele como melhorar o desempenho, como jogar melhor. Além disto ensaiavam jogadas, avaliavam os adversários. Convidaram outros jogadores do time a participar dos treinamentos. Muitos aderiram. Só o treinador mesmo é que não sabia das sessões de sábado.

O resultado foi surpreendente. O time do Manuel e Marco Antônio não perdia mais partidas. No máximo empatava, mas na maioria das vezes, ganhava. Algumas partidas ganhavam com uma boa margem de gols sendo quase todos gols do Manuel e do Marco Antônio.

A torcida do time aumentou consideravelmente. Muita gente, incentivada pelos parentes dos jogadores, começaram a assistir os jogos. Houve até uma reportagem no jornal do bairro.

Em casa, o Manuel era outro, não colocava mais o trabalho em primeiro lugar. Talvez para compensar o tempo que passava com o Futi, começou a sair mais cedo do escritório e a dar mais atenção à Marcia e as filhas. Isto somado ao tempo que ele passava no Futi e o Marco Antônio, começou a achar que Márcia não mais o traia com o Marco Antônio.

A Márcia depois de haver escutado do Manuel um relato de um dos jogos, comentou.

“Vejo como seu time está indo bem. Acho que um domingo destes vou com você ao jogo.”

O Manuel não disse nem sim nem não, mas começou a conjeturar uma maneira de fazer a Márcia desistir daquela ideia. Afinal ninguém do time sabia que ele era casado.

A Maitê não perdia um só jogo.

E foi assim que com um bilhete da Maitê, o caso começou. Em um momento em que o marido estava longe, ela disfarçadamente passou para o Manuel um pedaço de papel, com o número de telefone e uma simples frase.

“Me liga!”

Começaram a se encontrar. Foi complicado porque o Manuel com o trabalho, o Futi e a família tinha pouco tempo disponível, e além disto era necessário a Maitê também estar livre. Quando a Maitê podia se escapar do marido, ele sempre dava um jeito. Uma desculpa no escritório, dizendo que ia visitar um cliente ou iria participar de um evento. Evitava desculpas em casa e tomar tempo que passava com a família, mas vez ou outra não tinha outra alternativa.

Apesar da vida do Manuel estar conturbada, ele estava tranquilo, se sentia bem e chegou a pensar que sua situação poderia continuar assim para sempre.

Mas tudo o que sentiu quando descobriu que a Márcia o traia, voltou mais forte ainda quando se deu conta que ela e o Marco Antônio continuavam com os encontros!

Foi sem querer. Uma noite a Márcia dormia a sono solto quando o telefone dela acendeu indicando que havia recebido uma mensagem. O Manuel estava acordado e decidiu ver que mensagem ela estava recebendo àquela hora. Cuidadosamente pegou o telefone da Márcia, levou ao banheiro, e como sabia a senha, leu as mensagens.

Os encontros entre a Márcia e o Marco Antônio estavam menos frequentes, mas ainda aconteciam. Na mensagem que a Márcia havia acabado de receber, o Marco Antônio, dizia estar com saudades e não via a hora deles se encontrarem. Olhando mensagens anteriores descobriu que a Márcia e o Marco Antônio haviam combinado de se encontrar em um restaurante famoso para um lanche na sexta-feira, depois iram a um motel, exatamente o dia e hora que o Manuel e Maitê haviam combinado se encontrar também.

Foi então que o Manuel resolveu pôr tudo em pratos limpos, acabar de vez com aquela situação!

Na sexta-feira, se encontrou com a Maitê e mudou os planos:

“Que tal se fossemos primeiro comer um lanche?”

A Maitê não estava com fome, mas concordou.

O Manuel esperou um pouco para chegar ao restaurante, para ter certeza que a Márcia e o Marco Antônio já estivessem lá.

Foi o maior vexame!

A primeira a reagir quando a Márcia e o Marco Antônio notaram o casal em pé ao lado da mesa, foi a Márcia.

“Manuel o que você está fazendo aqui?” Disse surpresa, e acrescentou “E quem é essa aí?”

Quem respondeu foi o Marco Antônio.

“Essa aí é minha esposa a Maitê.” E levantando-se da mesa, olhando fixamente para a Márcia, perguntou:

“De onde você conhece o Manuel?”

“Ele é meu marido.” Informou a Márcia.

Foi a vez da Maitê interferir, e olhando para o Manuel inquiriu:

“Marido? Mas você é casado?”

O Marco Antônio estupefato se dirigiu à Márcia em um tom que pareceu muito mais alto, porque todos que estavam no restaurante haviam parado de conversar e estavam fixos na cena que se desenrolava. Quem resiste a uma desavença?

A Márcia sendo a única que estava sentada, também se levantou.

“Então vocês são casados? Mas você me disse que era solteira!” Perguntou o Marco Antônio e afirmou ao mesmo tempo.

O maitre vendo o barraco que estava se formando correu até o local da confusão e interrompeu a altercação.

“Não seria melhor vocês continuarem esta conversa em algum outro lugar?”

Foi então que os quatro se deram conta dos olhares de desaprovação e de sorrisos maliciosos dos clientes, garçons e outras pessoas.

“Sim, melhor.” Concordou o Marco Antônio, que exibia um rosto avermelhado e pediu ao maitre.

“Por favor a conta.”

“Não se preocupe, é por conta da casa.” Informou o maitre desejoso de terminar com aquela confusão o mais rápido possível. Além disto a despesa era muito pequena, somente um drink que o Marco Antônio havia pedido.

Envergonhados, evitando olhar para as pessoas do restaurante, os quatro saíram do restaurante e se reuniram no estacionamento.

O Marco Antônio, que havia pensado um pouco, sugeriu ao grupo.

“Porque não vamos ao motel que eu havia reservado?” e justificou “Lá podemos discutir esse assunto com calma.”

A sugestão foi prontamente aceita pelo Manuel que sabia perfeitamente onde ficava o motel, e os dois homens começaram a caminhar em direção aos respectivos carros, enfiando a mão no bolso das calças procurando pela chave.

Pararam de súbito quando notaram que as mulheres não os seguiam.

A Márcia e a Maitê sem saberem a quem seguir, ficaram paradas. Mas foi só por um momento. A Maitê que queria uma resposta do Manuel à pergunta que ela havia feito, e que o Manuel não havia respondido, se dirigiu a ele. A Márcia então caminhou na direção do Marco Antônio.

Assim, os casais foram ao motel da mesma maneira como haviam chegado ao restaurante, como amantes.

No carro a Maitê não esperou muito para interpelar o Manuel.

“Você arranjou tudo isto, não foi?”

O Manuel não teve outro jeito se não concordar.

“Porque?” Quis saber a Maitê mesmo tendo uma boa ideia da resposta.

O Manuel então contou para a Maitê, a traição da esposa o desejo de vingança, tudo.

“Então você decidiu ficar comigo só para se vingar?” Perguntou a Maitê, fazendo uma cara de desaprovação.

O Manuel foi sincero.

“No começo sim, mas depois que te conheci melhor, não. Queria mesmo ter você comigo.”

A conversa terminou neste ponto porque chegaram ao motel.

O porteiro não se surpreendeu quando foi informado que os dois casais iriam compartilhar o mesmo quarto. Em um motel para encontros, tudo acontece, tudo é permitido.

O quarto do motel adequado a sua finalidade incluía uma imensa cama redonda, espelhos no teto, uma mesinha com um vaso de flores, sofá, cadeiras e um banheiro luxuoso

Os quatro entraram no quarto um pouco constrangidos com aquele ambiente. Naquele momento, naquela situação, ninguém estava pensando em sexo.

O Marco Antônio, tomou a iniciativa.

“Vamos conversar numa boa, todos nós erramos e somos culpados, portanto não há motivo para acusações e brigas. Vamos discutir como pessoas civilizadas.”

Sábias palavras que repercutiram em todos.

Conversaram muito, confissões seguidas de choro e abraços. Cada um explicou seus motivos. As mulheres porque se sentiam abandonadas, o Marco Antônio porque achava que a Maitê não gostava de sexo, erro desmentido pelas ações dela com o Manuel, e o Manuel pelo desejo de vingança.

Foi um desabafo que fez bem a todos. Mas, o Manuel quiz saber mais.

“Como vocês se encontraram?” Perguntou olhando para a Márcia e Marco Antônio.

A Maitê notou uma ruga de preocupação no semblante da Márcia. Mas foi só ela, o Manuel nem percebeu porque a Márcia logo respondeu.

“Foi no shopping, em uma loja de roupas.” Não deu mais detalhes.

Em um lampejo, assim como um filme exibido a uma velocidade maior a cena na loja logo se desenrolou na mente da Márcia.

Ela reparou no Marco Antônio assim que ele entrou na loja. Ela estava examinando as roupas com pouco interesses, mais para passar o tempo. O Marco Antônio se aproximou da mulher que estava no caixa.

“Gostaria de comprar uma peça de lingerie para presente.” Disse

“Espere um momento por favor que logo atendo, estou tendo um problema com o computador.”  Informou a mulher do caixa um pouco estressada.

O Marco Antônio ficou esperando, mas a mulher estava demorando a resolver o problema e atende-lo. A Márcia se aproximou dele e ofereceu.

“Se quiser, posso ajudá-lo.”

“Você trabalha aqui?” Perguntou o Marco Antônio.

“Não, mas entendo de lingerie.” Respondeu a Márcia com um sorriso, que deixou o Marco Antônio interessado.

O interesse da Márcia no Marco Antônio e do Marco Antônio na Márcia aumentou a medida que eles analisavam as peças de lingerie, principalmente as mais sensuais.

“Esta deve ficar bem em você.” Afirmou o Marco Antônio, colocando uma calcinha minúscula na frente da Márcia.

A Márcia não ruborizou, pegou a peça da mão dele e se olhou no espelho que havia ali perto, fazendo alguns movimentos com os quadris. Estavam no fundo da loja, longe dos olhares da mulher do caixa que ainda estava brigando com o computador. O Marco Antônio, agarrou a Márcia pela cintura, colou seu corpo no corpo dela e se beijaram.

Naquela mesma tarde a Márcia experimentou, na frente dele no motel, a calcinha negra que ele havia comprado para ela. A vermelha era para a esposa.

A Márcia ficou surpresa quando percebeu que sua resposta simples ao Manuel não foi seguida de mais perguntas, e mais surpresa ainda quando Manuel brincou, concluiu e sugeriu.

“Declaro terminada essa sessão de terapia sem mediador. Vamos por uma pedra de cal em cima disto e seguir nossas vidas, prometendo nunca mais nos encontrar.”

“Nunca mais nos encontrar, como assim?” Perguntou visivelmente perplexo o Marco Antônio e sem aguardar uma resposta continuou.

“E o Futi?”

“Como Futi?” Perguntou o Manuel, não acreditando.

“Futebol, futi, como você queira. No domingo é a semifinal. Você não vai participar?”

“Depois de tudo que aconteceu conosco?” Perguntou o Manuel na dúvida.

“Cara, se ganharmos a semifinal, vamos à final no domingo seguinte. Nunca nosso clube chegou em uma semifinal.” E continuou. “Se você participar, pela primeira vez na história nosso time com certeza vai ser campeão.”

A Márcia e Maitê que até então pouco haviam participado desta parte da conversa, concordaram com o Marco Antônio.

O Manuel hesitou, e o Marco Antônio aproveitou para propor.

“Pela glória do nosso time, pelo futi, sugiro deixar tudo como está, pelo menos por enquanto.”

Os homens não perceberam, porque não notam nada, porque não têm ideia do que se passa na cabeça das mulheres. Foi um só instante. A Márcia e Maitê se entreolharam como se pensamentos e sentimentos pudessem ser transmitidos, compartilhados.

O Manuel relutantemente concordou ante ao aplauso dos demais.

“Porque não pedimos um almoço executivo? O que eles servem aqui é excelente.” Lembrou a Márcia e finalizou.

“Não comi nada no restaurante. Estou com uma fome!”

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